THIAGO ARAUJO é... o Palhaço Pindaíba!

Quem vos fala neste sítio virtual é Thiago Araujo, o Palhaço Pindaíba,
contando como a vida me fez palhaço e o que, então, eu passei a fazer da vida.
Atravessei os sete mares. Itália, Alemanha, Malta... quase sete...
cruzei o Brasil de Porto Alegre a São Luís do Maranhão, Góias, Corumbá, Belo Horizonte...
Conheça o espetáculo solo "Manual de Sobrevivência na Grande Cidade"
e toda trajetória de atuação cômica deste paspalho.

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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

¨6 Semana Interplanetaria de Palhaços

amigos de ruas, pontes becos e vielas, que resurgido das maquiagens borradas e sapatos gastos nos encontramos novamente na Semana Interplanetaria. Na verdade o desejo de estar com os pares é maior que o de trabalhar . Não me entendam mal, mas se por um lado precisamos saber fazer um pouco de tudo como atuadores de uma cena artesanal e cuidar de todas as fases da produção de uma obra cenica, pois esta é uma caracteristica do artista circense. Mas por outro sinto necessidade de traçar uma reta em direção ao centro do sentido existencial do que faço, vaidade, dignidade, amor a arte, fé, altruismo... sentidos que vão e vem no juizo de valores da minha vida. Acho que o treinamento técnico só se supera de fato com a conquista do tempo, do tempo da cena, do jogo de atuar e do tempo das nossas proprias expectativas, interações que de alguma forma se aliam em algum momento de nos vidas. Mas o que fica de fato é um desejo incomensurável de ver a coisa acontecendo, onde estão, o que fazem, como vivem como estão a caminho desta entrega. Ser Palhaço e Palhaça pode ser tanto a técnica de atuação cênica como o principal elemento de seu exercicio de cidadania, de oferecimento de sua expressão mais intima a um público vasto e heterogeneo. è mesmo um ponto de vista sobre o mundo que precisa ser conquistado, preparado, treinado, ensaiado, técnico, mas sobre tudo conquistado junto ao público e a sua própria busca, porque de fato escolheste se auto atribuir Palhaço. Não tenham dúvida que a arte é parte de um contexto sócio politico de uma epoca. Me cobro o tempo todo, como promover minha mudança de hábitos, como fazer as coisas que as vezes parecem tao desconexas e contraditórias se encontrarem.
Que nos encontremos portanto para criar formas de sempre nos encontrarmos, a si mesmo e ao outro. Parabens meus minino, por serem tão ...Palhaços !

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Informativo Pindaíba em Cordoba – Argentina - Festival Circo en Escena 2011

Estivemos durante 04 dias reunido nesta quinta edição do festival cordobes organizado por grupos locais. Mais do que apresentar e assistir espetáculos estivemos juntos por todos os dias, trocando experiências e falando da condição de trabalho dos grupos independentes de circo e rua. Estivemos em contato, como convidado , com a estrutura de organização compartilhada, sem fins lucrativos e de cunho inclusivo que caracteriza este festival e sobretudo nos reunimos, enquanto articuladores e representantes de outras iniciativas de mostra e festival e artistas de diversos países, criando e mantendo relações, produzindo pensamento e buscando novas oportunidades de popularização dos grupos como um todo.
Relato oficina
Durante 02 dias estive reunido com 05 alunos em uma oficina realizada na Sala La chacarita, motivados pela investigação que propus sobre a relação complementar entre efeitos cômicos e ações físicas, a geração do impulso físico e sobretudo a capacidade de geração de alvo e reações na cena cômica.
Observamos juntos, como alguns elementos conceituais podem contribuir com o desenvolvimento da cena, realizamos simultaneamente reflexões sobre a identificação de categorias de efeitos cômicos, a atuação cômica como concepção dramática e técnica, finalmente sobre alguns elementos que podem contribuir com o desenvolvimento da obra de arte, seja o personagem ,o palhaço, a cena, número ou espetáculo. Simultaneamente experimentos jogos, a partir dos quais geramos elementos empíricos, que associado aos conceitos geraram o material investigativo da oficina. Depois experimentamos a aplicação de pequenos textos a circunstâncias dadas inversas, notamos como o efeito cômico aflora da atuação cômica e de como a mesma gera o impulso de reação e manipulação dos efeitos estudados. Mesmo que a construção de uma obra, baseada nestes elementos necessite de muito mais tempo para se consolidar, vimos que investigar o material cênico sobre uma base reflexiva sistematizada pode ser interessante para conhecer um pouco do universo e das possibilidades que se descortinam no trabalho de criação cômica cênica. Creio que o impulso de atuação , quanto mais na prática cômica, tem necessidade de coesão sócio corporal para se manter e desenvolver-se plenamente como pensamento/ação. Nesse caso, da atuação cômica, uma vez que a arte cômica é discriminada ideologicamente, a afirmação e a motivação do artista passa por dimensões políticas( pois trabalha com a critica e ruptura do padrão cognitivo), estéticas( pois questiona as tendências hibridizantes e a vulgarização dos símbolos), comunicativas( pois insere o espectador na quarta parede), corporais e morais( pois trabalha a aceitação do corpo e das variáveis transgressoras que comporta. A separação destas dimensões mantém o impulso de atuação cômica sob níveis significativos e perigosos de mediocridade. Não basta gostar de rir, nem gostar de atuar, buscamos um sentido de coesão e cumplicidade com o público, se de um lado precisamos do caráter de diferenciação de individuação que o teatro propõe, a distinção larga entre o eu e o não eu, a experiência poética só se completa , só se consuma com o retorno deste ato de diferenciação egoica ao seio das massas espectadoras, de onde saem os artistas.
Relato Desfile de Rua
Saímos em desfile pelas ruas de córdoba, num autêntico cortejo circense, a presença dos artistas caracterizados gerou uma multidão diversificada de figurinos, maquiagens e habilidades praticas, artistas lançando objetos aos céus acrobatas e paradistas de integrando a arquitetura, contando também com a presença maciça do publico, todavia tivemos como tonica a experiência de Tuga , da invasion callejera chilena que deu o toque de Midas com sua larga experiência em fechar cruzamentos e contracenar com carros e passantes, estive numa experiência que considerei formidável , como nega maluca, com peitos e bunda de balão , fumando um grande charuto, Senti que eu realmente fazia parte de um ambiente diverso, não so porque estava em outro pais com distintos oficiantes, mas porque carregava uma expressão marginal da cultural popular brasileira, a nega maluca como representante da mulher mestiça brasileira, em ultima instancia, a pombagira de nossos terreiros e ainda testando a presença na rua do transvestimento carnavalesco masculino, desconstruindo o tabu do machismo e sexismo característicos das mentalidades doentias que nos incutiram. Observei um movimento intenso realizado pelas mulheres, não so como artistas mas como protagonizadoras da produção local, é certo que temos homens fazendo o evento acontecer, mas a presença das mulheres na produção também se mostrou marcante. Toda força a mulher circense e atuante de rua!
Relato espetáculos marcantes
Tive a oportunidade de assistir a banda Meteorológica , nova fase do trabalho dos amigos do Circo da Vinci, uma grande banda cênica musical, com musicas muito bem trabalhadas e sobretudo animadas. Assisti também que me tocaram muito, Alba, a multi e completa artista de Buenos Aires, Circo Zeta, com a Vedete Ordinária, Tuga e a família da Invasao de rua, do Chile, O grupo Corredor Sur Americano, com as meninas Leda e Chucho, manipulando o corpo e a musica com a mesma destreza, de Buenos Aires também, de Mendoza recém cidadão de Cordoba , Rulo, o paradista poeta, Turulo, de Jujuy, o alegre das palavras , Trio Pecaminoso, grupo local também, que a mim me pareceram como pintores de quadros vivos, jovens experimentados na dramaturgia cômica de quadros e efeitos, Araknido com sua técnica especial de malabarismo no solo, fazendo uma ponte entre Cordoba e Costa Rica e finalmente a companhia mineira brasileira de atores argentinos, o Individuo, que a partir de um erro de enunciação, ao invés de escreverem na programação El, escreveram O e eles fizeram a verdadeira inversão étnica, argentinos representando o Brasil, e eu como brasileiro legitimando esta fusion e desconstrução Babelica, já estão no Brasil a tanto tempo, mas não deixam de ser e mostrar a identidade cordobeza e isso me fez conhece-los um pouco melhor e sobretudo refletir sobre a relatividade das fronteiras nacionais, que nos servem muitas vezes para garantir a afirmação das culturas no mundo globalizado, mas não nos servem, como ex colônias européias que somos e que precisamos encontrar nosso próprio caminho sobre o território americano.
Isso sim me marcou muito, os hermanos argentinos cordobezes, os chilenos( sic), uruguaios demostrando um carinho e uma admiração pelo Brasil, pelo ritmo da língua, pela musicalidade e eu reciprocamente, admirado não só pela mentalidade e determinação, como pela música e pelo humor , apreendidos nesta imersão que o Festival me propiciou.
Relato Charla de Festivais
Me senti um pouco nervoso para propor e não consegui falar sobre os elementos que me levaram a propor esta carta como eu gostaria de ter feito, no entanto, creio que por osmose e convivência, todos se debruçaram sobre a tarefa de constituir um documento, que consolida a transformação do Festival Circo en Escena num festival internacional e que sobretudo fundamenta uma proposta de integração e fortalecimento de iniciativas similares presente verão na carta fundamentos comuns de intercâmbio e entendimento sobre a importância do caráter popular e independente dos Festivais e Mostras de Circo da América Latina .
Relato Manual em La Plaza Intendente
Meu espetáculo ocorreu na rua, sob o sol quente e a terra seca do inicio da primavera, na verdade há muito tempo não tenho um espetáculo que possa repetir, as coisas na minha vida tem mudado tão rápido quanto tenho experimentado coisas em cena, creio que reflexo da minha fase de iniciante na arte cênica, afinal só tenho investigado a 8 anos a arte do teatro de rua e agora me aproximo de pontos mais focados dentro da técnica de atuação cômica. Creio que gerei um estranhamento no público, não só a aplicação de efeitos cômicos, mas de uma dramaturgia feita para Córdoba, onde fiz inicialmente uma critica ao apoio do poder público local( quadro onde peguei uma cadeira velha , coloquei uma grande carta do patrimônio da Prefeitura Local e informei que o apoio so se consolida com a assinatura de um contrato do publico e artistas com o poder publico e que este contrato começa e termina com termo não, é proibido. Construi as cenas sobretudo em cima de uma desconstrução babélico, falando uma língua que não seria nem portunhol, nem português, nem espanhol, como disse Diego, O individuo, como um falante sem gramática.
De qualquer modo, após o estranhamento já me sentia tranqüilo para experimentar e fazer a cena se desenvolver, e eu como um apaixonado por Jesus, mas anti cristão, alimentei o publico na cena do recreio e lavei e beijei os pés de um cordobes e como consagração final deste ritual panegírico, finalmente me banhei com uma micro sunga( eles tem uma imagem muito forte a partir da moda da TV carioca da década de 70 do brasileiro como um homem de sunguinha) na Praça com os auspícios do publico que termino assombrado, rindo e admirando minha loucura, mas sobretudo surpresos, por banhar-me tranquilamente num dia de calor , como um rueiro sabe fazer.
Relato Bastidores e amigos Latino Americanos
Desde quando trabalhei na Associação Jose Martí de solidariedade a Cuba , em 1997, eu sabia do desafio de romper com as barreiras da colonização espanhola e portuguesa, a criação de um pais continental e a utilização de duas línguas tão próximas em seu continente de origem, mas que na América geram uma distância tão sofrida, me faziam crer que se estas fonteiras tem um papel na coesão destes países, são prejudiciais na união do continente, dessa forma eu sabia e sei que esta territorialidade forjada ( o mito das nações colonizadas que só o são por pela estrutura colonialista ) é relativa e nesse contexto só serve para ser rompida, ou seja temos que viajar e sobretudo viajar juntos, nos completar, nos emocionar juntos ver a determinação e esforço dos anfitriões em receber os grupos e assim criarmos laços afetivos de troca estética e comunicativa que rompam com essa falsa noção territorial, me senti realmente muito tranqüilo, num ambiente de confiança, mesmo que os pelotudos me gozassem, como fazemos com eles no Brasil, quanto a musicalidade da língua, a dificuldade de pronunciar as palavras, isso também incorporei em meu espetáculo e vejo que vamos juntos confirmando nossa reciprocidade. Vi que a produção local teve seus conflitos, comum ao trabalho coletivo e precarizado, mas também vi um tipo de coesão especial, fruto de uma clareza, de uma determinação, mesmo para alguns ainda conflituosa, fruto de uma escolha, de uma necessidade que só os que compreendem permanecem construindo. Como já diziam, quem já está, está, e não façamos juízo de valor aos que não querem mais ou nunca quiseram assumir uma responsabilidade tão grande, mas já deixando um recado, sozinhos não podemos, não construiremos um contexto de tanto respeito e valorização da arte de rua como queremos. E finalmente,o grande triunfo Cordobez , a trajetória pedagógica de formação de público e valorização do chapéu, pois se de um lado o financiamento público aqui é uma realidade distante por outro o público enche os chapéus no final do espetáculos pelo trabalho discursivo, retórico e prático de levar atrações gratuitas a rua e de mostrar a importância da ligação direta, sem instituições burocráticas, entre público e artista. Isso realmente me emocionou muito, o trabalho maciço de convencimento e construção desta relação pedagógica e afetiva com o público, incrível como os chapéus terminavam cheios... pouco dinheiro na certa para todas as necessidades, mas significativa quantidade para uma ação independente que não tem nada que ver com a institucionalidade policial colonial. Toda força ao chapéu de rua!!! Auspicios de ustedes... e de nosotros!